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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um Mundo de Escolhas – A Infiel

Definitivamente não vivemos num mundo justo, esta era a única conclusão que eu conseguia tirar daquele dia. Parei meu carro numa rua deserta, e fiquei ali parado, como se tentasse digerir tudo o que tinha ocorrido comigo até ali, mas estava realmente difícil, aquela criança havia mexido comigo, mexido profundamente, estes dois últimos dias tinha me feito viver coisas que não havia vivido em toda uma vida, mas falando em vida, minha vida tinha que continuar, decidi então ir para o trabalho, afinal de contas eu tinha muito o que fazer lá.

Não estava com cabeça para o trabalho, as coisas agora não faziam sentido, todas aquelas histórias ficavam se misturando na minha cabeça, o pessoal do escritório percebia que eu não estava legal, evitavam de conversar comigo, e isso foi durante todo o expediente, já era quase cinco da tarde, me preparava para ir embora, quando uma amiga chega na porta:

-Posso falar com você?

-Claro, senta ai.

- Podemos ir para outro lugar, sei lá tomar alguma coisa?

- Acho que não estou com cabeça para isso.

- Preciso desabafar, falar com alguém, e acho que só confio em você


Não, eu não acreditava no que estava ouvindo, tudo o que eu não queria naquele momento era alguém para me contar mais uma história.

- Se importa de deixar pra outro dia?

- Sim me importo!

- Olha eu não estou num dia legal, não vou ser um bom ouvite.

- Por favor?

- Tudo bem, mas você vai me prometer que será rápido.

- Ok, te espero no estacionamento.


Eu tinha uma escolha, não ir, ligar no celular dela e dizer que apareceu mais serviço e que não iria dar pra sair e coisa e tal, mas eu ficaria com remorso depois, então mesmo diante do medo da história que estava por vir, eu fui, peguei ela no estacionamento e fomos até um barzinho da cidade.

- Por favor, não tive coragem de contar isso pra ninguém...

- Se fosse você também não teria coragem de contar para mim...

- Porque você diz isso?

- Só não estou nos melhores dias!

- Eu sei que posso confiar em você.

- Mas o que aconteceu de tão grave assim?

- Entrei em uma enrascada...


É, a história dela era pra finalizar meu dia com chave de ouro. Luciana era casada, a uns 8 anos, dizia-se feliz no casamento, mas já fazia alguns dias que ela me contava sobre um flerte entre ela e o advogado da empresa, mas até então nunca havia passado de flerte, mas naquela semana, eles saíram para uma conversa de bar logo após o trabalho, e papo vai, papo vem foram se envolvendo naquela maldita mágica da sedução, e quando perceberam estava se beijando, disse então que já que haviam passados dos limites, acharam que poderiam ir um pouco mais adiante, foram para o apartamento dele, e lá se entregaram uma ao outro.

Enquanto ela me contava, eu já estava formulando minhas respostas, aquelas coisas do tipo, ah isso acontece, não fica assim, logo passa o peso na consciência. Eu realmente estava achando uma besteira toda aquela preocupação dela, não que ache certo as pessoas traírem seus parceiros, mas também acho que se isso acontece é porque há muitos fatores envolvidos, então não adianta ficar remoendo a culpa, mas antes mesmo que eu pudesse usar qualquer argumento ela jogou uma bomba em minhas mãos.

- Tudo teria parado por ali, não fosse um incoveniente.

- O que foi?

- Meu cunhado viu quando eu sai do apartamento dele.

- E daí?

- Não se faça de tonto.

- É só dizer que foi lá buscar uns papéis da empresa.

- Ele nos viu beijando.


Tá, o mundo caiu! Eu acabara de me arrepender de ter começado a ouvir aquela história, mas ela nem tinha contato o pior ainda, disse que depois disso o cunhado passou a chantagiá-la, dizendo que se ela não saísse com ele, ele contaria tudo para o irmão.

-Transa com ele oras, já traiu com um qual o problema de trair com outro.

- Não acredito que ouvi isso!


E nem eu acredito que disse aquilo, acho que foi a coisa mais estúpida que falei em toda minha vida.

- Eu só sai com o Júlio porque havia um clima, você sabe disso, sinto que meu casamento está um fracasso, e senti vontade de experimentar algo novo, mas você sabe que não sou disso, eu e o Julio estamos nessa faz mais de um ano e nunca havíamos passado dos limites, até então era só flerte.

- Pronto, está ai a solução, seu casamento não é um fracasso? Admita isso, fale com seu marido, conte a verdade, e deixe ele escolher o que fazer.

- Você não está bem mesmo, né, já imaginou o que vai ser de mim se os outros descobrirem isso, o quanto vão falar de mim?

- Você tinha opções, escolheu errado, assuma as consequências. 

Eu realmente estava começando a achar que eu tinha autoridade no assunto escolhas.

- Não é tão simples assim, já imaginou que posso até perder o emprego por causa disso?
E o Júlio, o que acha disso tudo?

- Ainda não falei nada com ele.

- Sabe, sinceramente acho que você está perdendo uma oportunidade de recomeçar tudo de novo, é para isso que servem os erros.

- Do que você está falando?

- Qual é Luciana, desde que te conheço você reclama da sua vida de casada, tudo bem você errou feio em trair seu marido, mas porque não aproveita a oportunidade e joga tudo pra cima, admita o erro, e tenta corrigir um erro maior que foi manter esse seu casamento mesmo sendo infelizes.

- Eu não sou infeliz!

- Ah! Não? Então porque procurou outro homem.


A hipocrisia das pessoas as vezes me assusta, eu já estava cansado de tudo isso, de todas as histórias, dessas pessoas que se tornam escravas de suas escolhas, não dava pra simplesmente ficar ouvindo ela se remoer e ficar calado, eu precisava falar as minhas verdades.

- Eu realmente me enganei com você, decidi contar isso porque acreditava que você era uma pessoa sensível.

- Me desculpa Luciana, mas esses últimos dias me fizeram perder toda sensibilidade que eu tinha, e acho que você deve começar a encarar a realidade.

- Qual realidade?

- Ou você conta para seu marido ou saí com seu cunhado.

- O que você faria?

- Eu não teria me metido nessa enrascada!


Aquela ultima frase serviu como um “Cala Boca”, ficamos depois disso uns 20 minutos sem abrir a boca, percebi que toda aquela conversa tinha doido de verdade nela, acho que  aquela conversa mexeu com ela, talvez eu tenha dito coisas que ela não queria, mas que precisa ouvir, às vezes precisamos de umas verdades para entender que o mundo não gira ao nosso redor.

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