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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um mundo de escolhas – O Homem


A conversa com aquela mulher de certa forma me deixou desnorteado, até então eu achava que conseguiria mudar o mundo, agora já não tinha tanta certeza. Resolvi dar mais uma volta pela praça quando vi um senhor sentando em um dos bancos da praça, ele parecia chorar, vestia um terno preto, sua presença na praça modificava um pouco o ambiente, fiquei por alguns minutos o observando, resolvi então chegar até ele para uma conversa, eu procurava por resposta agora, e talvez ele pudesse me ajudar.
Sentei ao seu lado no banco e dei um “bom dia” que ele respondeu timidamente. Ficamos lado a lado por bom tempo, até que resolvi tentar uma conversa:

- Você parece não estar bem, será que posso lhe ajudar de alguma forma?

- Creio que não.

- Você pode tentar.

- Não quero tentar.

- E você acha que ficar ai se lamentando por alguma coisa errada vai solucionar seus problemas?

- E o que você entende da minha vida para poder opinar?

Ele estava certo, eu não tinha o direito de me meter na vida dele, ele estava escolhendo não se abrir, e eu estava insistindo em mudar sua escolha, percebendo que não conseguiria tirar nada dele, me levantei e dei alguns passos para ir embora, quando ele percebeu que eu estava o deixando só, ele me fez uma pergunta:

- Você tem filhos?

- Não, ainda não.

- Então você não vai compreender meu problema.

Ele abriu uma brecha, e eu investi:

- Eu não tenho filhos, mas sou filho.

- E o que você diria se seu pai lhe tirasse um presente que você desejou muito?

- Eu procuraria saber os motivos que o levou a fazer isso, creio que ele não faria algo deste tipo se não fosse movido por um forte motivo.

- Senta aqui comigo, vou lhe contar o que me aconteceu.

Eu tinha medo de ouvir mais uma história, tinha medo de me perder ainda mais, só que eu havia entrado na história dele, não poderia abandoná-lo agora, me sentei e ele começou a contar sua história.
Ele havia recebido a três meses atrás uma proposta de emprego, com um salário 3 vezes maior do que o trabalho em que estava, sentiu que sua vida estava prestes a mudar, aceitou a proposta e começou a trabalhar nesta outra empresa, sua alegria era tanto por sua realização pessoal que prometeu a seu filho um passeio na Disney no final do ano, no mesmo dia foi até uma agencia de viagens e comprou um pacote para a família. Tudo estava bem até ocorrer um problema no trabalho, alguém havia feito um desfalque na empresa, e ele acabou sendo o bode expiatório, a culpa caiu toda sobre ele, e ele foi demitido, ele então entendeu que tudo o que fizeram foi armar uma cilada para ele, e ele havia caído, e agora estava desempregado, e ainda com uma má fama no meio empresarial.
Para ele o que mais doía naquele momento era o fato de ter que contar ao filho que teria que voltar atrás, que agora não teria condições financeiras para manter a viagem, para piorar um pouco mais, disse que apesar de já fazerem duas semanas do ocorrido, ainda não havia criado coragem para contar o ocorrido a esposa, e desde então saia toda semana dizendo que estava indo para o trabalho, agora sentia-se envergonhado, e sem coragem para abrir o jogo com ela.
Ele estava frustrado, e principalmente arrependido por ter deixado a empresa onde trabalhava anteriormente, ele contava o quanto era feliz nesta empresa, onde trabalhou por mais de 10 anos, e num momento de insanidade, segundo ele, abandonou seus amigos e a própria empresa por ganância, e agora estava pagando um preço muito alto pela escolha.
Só então eu me dei conta, mais uma vez era a escolha que havia transformado a vida daquela pessoa, que uma escolha infeliz havia lhe trazido tanto transtorno.
Eu realmente não tinha o que falar, acabara de voltar de um mundo onde todo mundo é feliz com suas escolhas, tudo isso me deixava ainda mais sem chão. O que eu poderia dizer para ele, que o filho o entenderia? A criança tinha apenas 6 anos, com certeza não entenderia. Disse a ele então que ficar lamentando não o levaria a nada, e se mantivesse a mentira para a esposa poderia piorar ainda mais a situação, ela em hipótese alguma poderia ficar de fora dos fatos, que ela mais do que ninguém o ajudaria nessa difícil missão de convencer o filho de que um dia as coisas voltariam ao normal e ele poderia cumprir a promessa da viagem a Disney.
A situação dele não era fácil, mesmo hoje eu ainda não sabia dizer se ele errou ou não na escolha, será que eu não faria a mesma escolha? Parece tão obvio que sim, ele jamais imaginaria o que lhe aconteceria, e na nossa vida sempre buscamos por aquilo que parece ser melhor para nós, ele apenas estava buscando o melhor para sua família, mas a vida lhe dera uma rasteira.
Eu sei que não poderia ajudá-lo muito, então dei-lhe minha última sugestão:

- Ame teu filho, ainda que você não consiga cumprir tua promessa, ame teu filho, uma viagem para Disney cairá no esquecimento muito rápido, já todo o amor que você pode dedicá-lo hoje, jamais deixará de fazer parte da vida dele.

É claro que para mim que estava fora da situação, tudo parecia mais simples, eu não gostaria mesmo de estar no lugar dele para escolher as palavras para falar ao filho.
Agora eu começava a entender, que nossas escolhas de fato, não são escolhas, são impulsos.

4 comentários:

  1. Oi meu amigo,

    Conhece a poesia de Cécília Meireles "ou isto ou aquilo"?

    "Ou se tem chuva e não se tem sol
    ou se tem sol e não se tem chuva!
    Ou se calça a luva e não se põe o anel,
    ou se põe o anel e não se calça a luva!
    Quem sobe nos ares não fica no chão,
    quem fica no chão não sobe nos ares.
    É uma grande pena que não se possa
    estar ao mesmo tempo em dois lugares!
    Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
    ou compro o doce e gasto o dinheiro.
    Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
    e vivo escolhendo o dia inteiro!
    Não sei se brinco, não sei se estudo,
    se saio correndo ou fico tranqüilo.
    Mas não consegui entender ainda
    qual é melhor: se é isto
    ou aquilo."

    A poesia nos faz perceber que em toda escolha há uma perda, concorda?
    Fazer escolhas, ainda assim, é melhor do que agir por impulso, pois não escolher é muito pior, se perde muito mais, já que a possibilidade de erro é maior...

    Beijos,
    Cris

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  2. Ola amigo, como sabemos a vida é feita de escolhas. Para tudo devemos fazer escolhas, muitas vezes somos levados pelos sentimento, pelas necessidades, ganancia,e muitos outros motivos.
    Tem vezes queseremos bem sucedidos, outras daremos com a cara no chão, como o personagem acima.
    Daqui a alguns dias toda essa nação terá que registrar sua escolha em uma urna, onde serão 5 escolhas, como parece que seu blog é muito acessado gostaria que você em seu próximo caputilo desta saga "um mundo de escolhas", publicasse um artigo que nos levasse a refletir sobre estás escolhas que teremos que fazer, sem qualquer tipo de campanha, se possivel.
    Ficarei grato caso essa minha solicitação seja atendiada,não somente eu mas sim o Brasil que tanto amamos, pois acredito que oque está faltando são textos que nos levem a refletir em que depositar nossa confiança, e responsabilidade da governar nosso país para assim possivelmente melhorar ainda mais.
    Como diz o ditado "uma andorinha só não faz verão", mas pode ter certeza que seu blogo ficará ainda mais conhecido, pq muitos irão indicar para os amigos, e aí não será mais somente uma andorinha e sim uma revoada.

    Está é uma escolha que coloco em suas mãos!!!!
    Se tivesse um blog, assim tão acessado como o seu também iria fazer isso.

    Um grando abraço, e obrigado pela atenção!!!!

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  3. Olá Cris, tão genial quanto Cecília Meireles foi a sua idéia de postá-lo aqui, de fato ele tem tudo haver com o que a série "um mundo de escolhas" está discutindo.
    Não se pode ganhar todas, e nem por isso dá para parar de fazer escolhas.
    Concordo com vc quando diz que que as coisas não podem ser feitas por impulso, uma pena é que que mais de 80% das nossas escolhas são feitas por impulso, na maioria das vezes somos levados a decidir por algo o mais rápido possivel, mas ainda sim, precisamos aprender a ponderar as coisas antes de escolher, ainda que tenhamos somente dois minutos para isso, precisamos aprender a usar estes dois minutos para analisar todas as opções disponiveis.

    Beijão Cris!!!

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  4. Freitas, há tempos venho pensando em tocar no assunto politica no blog, gosto de falar desses temas que dizem que não se discute, ja falei de futebol e religião, porque não então de politica?
    O grande problema é que em toda minha vida tentei ser uma pessoa apolica, pelo menos por fora, tenho meus ideais por dentro, mas evito ao máximo deixar transparecer, como professor, sou formador de opinião, e meus alunos são em sua maioria jovens ainda com a personalidade em formação, não quero influênciá-los a nada, até porque não sei se meus ideais estão correto. Tudo o que faço e tentar abrir a mente, levar a reflexão, o tempo todo se você parar para analizar meus textos, eu não tomo partido de nada, pelo menos de nada que eu tenha certeza que seja o melhor para todos.
    A Saga do "Um mundo de escolhas" ainda está sendo desenhada, e é perfeitamente possivel incluir algo "politico" nela, mas a única coisa que vem em mente seria algo para os capitulos finais, e talvez não haveria tempo hábil para isso.
    Prometo tentar bolar algo, mas não dá pra prometer conseguir.
    Muito obrigado pela sugestão, é bom ter pessoas ao meu lado com vontade de ajduar.

    Aquele Abraço!

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