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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um Mundo de Escolhas – O Segundo Laço Rompido


Foto: Aneta Blaszczyk

Tive um dia normal na escola, certo de que a minha vida estava recomeçando, enfim eu e papai poderíamos tomar novamente o controle de nossas vidas para levá-las em frente, pelo menos isso era o que eu pensava.
Naquela tarde voltei pra casa todo feliz, afinal de contas tudo começava a caminhar no seu eixo novamente.
Você já parou pra pensar de quantos recomeços  é feito uma vida? Eu cheguei a conclusão de que, viver por si só já é um recomeço diário.
Quando cheguei em casa estranhei o carro na garagem, será que papai havia voltado mais cedo do trabalho? Vi que a porta estava aberta e me estremeci, algo parecia já me avisar que o que eu estava prestes a ver mudaria por completo o curso de minha vida, mas até então eu estava começando a me habituar com mudanças, hoje penso que se pudesse voltar ao passado eu não teria entrado por aquela porta.
Ao entrar em casa vi várias fotografias minha e de meus pais espalhadas pela casa, isso deixava claro que papai havia tido uma recaída, gritei por ele, mas ele não respondeu. Vi então que havia em cima da mesa da cozinha um envelope, com a letra de papai estava escrito “Para meu querido filho”...
Eu não queria abrir aquela carta, tinha medo do que estava por vir, eu devia mesmo ter desconfiado que esta súbita melhora de papai escondia alguma coisa, acho que nunca vou me perdoar por isso, bom era fato consumado, não dava mais pra voltar atrás, então decidi abrir a carta que começava com uma frase que me soava bem familiar:

Filho,
As escolhas que fazemos muda todo o curso da nossa vida, depois da escolha feita não dá mais para voltar atrás, no máximo poderemos escolher tentar corrigir os erros, mas bem no fundo, não há escolhas erradas, há escolhas feitas sem pensar.
Me desculpe por ter feito escolhas erradas, me desculpe por ter lhe envolvido nas minhas escolhas erradas.
Hoje ao abrir a porta de casa para ir para o trabalho senti falta de sua mãe, retornei ao quarto para buscar aquele beijo que ela sempre me dava ao partir, mas ela não estava lá.
A vida sem sua mãe não é vida, não posso insistir, a culpa é minha e preciso corrigir meu erro.
Papai

Não eram frases agradáveis, apensar de ser criança eu sabia muito bem o que aquelas palavras mal traçadas de meu pai queriam dizer, rapidamente deixei a carta cair e corri ao quarto de meu pai, há tempo de ouvir dele o último conselho:

-Filho, não tome pra ti a minha escolha errada, eu só lhe esperei pra dizer que apesar de te amar muito não vou suportar o peso do mundo, não tenha medo das escolhas que tiver que fazer, mas nunca, nunca se deixe derrotar por uma escolha errada que fizer.

É estranho como perdemos toda nossa força diante da morte, meu pai soube esperar até o ultimo minuto, para poder me dar um último conselho, mas não me deu nenhuma chance de intervir, nenhuma chance de fazer uma escolha, lembro-me que lentamente vi meu pai saltar daquela cadeira, como se corresse para um abraço com a morte, fiquei imóvel, meu pai sabia disso, ele sabia que eu não teria forças pra impedi-lo, papai foi cruel comigo, me ensinou da pior forma possível, que cada um é responsável por suas escolhas, e que ninguém tem o direito de intervir nelas. Foram os segundos mais duradouros de minha vida, enquanto a corda se estivava eu me ajoelha no chão como que pedindo por um milagre, mas papai arquitetara direitinho seu plano talvez até maquiavélico de deixar a vida. Papai foi injusto comigo, mas eu acredito que ele tenha sido ainda mais injusto consigo mesmo. Desistir da vida, foi a forma que ele encontrou de não ter que se arrepender das escolhas que fizera.
Somos tão pequenos diante da morte, tão frágeis que nada fazemos diante dela, não por medo dela, mas por fraqueza nossa, enfrentar a morte assim de cara como fui obrigado a fazer, me fez ver que sou um nada diante de um mundo injusto e cruel. Em pouco tempo o anjo da morte levou as duas pessoas mais importantes da minha vida, mas ali ajoelho diante do corpo de meu pai, fiz uma promessa a mim mesmo:

-Jamais escolherei morrer.


Este é um texto de ficção.

Os outros capitulos da série Um Mundo de Escolhas podem ser encontrados nos links abaixo:
 
Um Mundo de Escolhas - O Homem Que Amava Outro Homem 
Um Mundo de Escolhas – A Minha Escolha
Um Mundo de Escolhas – Essa é minha história
Um Mundo de Escolha – O primeiro Laço Rompido
Um Mundo de Escolha – A Despedida de Mamãe
Um Mundo de Escolhas - Tentando Seguir em Frente

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